"Perder-se significa ir achando e nem saber o que fazer do que se for achando". Clarice Lispector

sábado, 29 de janeiro de 2011

A origem dos sonhos


A Origem (Inception, EUA, 2010)

Dirigido e escrito por Christopher Nolan: Leonardo DiCaprio, Ken Watanabe, Joseph Gordon-Levitt, Cillian Murphy, Marion Cotillard, Tom Hardy, Ellen Page, Michael Caine, Dileep Rao, Tom Berenger.



Vendo a imperdível exposição “O mundo mágico de Escher” no CCBB-RJ, tive vontade de comentar o maravilhoso filme de Christopher Nolan “A Origem”. Tem tudo a ver! Não por acaso, o diretor partiu do quadro “Relatividade” de Escher para montar um mosaico cinematográfico, no qual o sonho impera. Se naquele quadro, a cada ponto de vista, muda a percepção da situação, bagunçando incrivelmente as leis da física, neste filme sentimos a mesma vertigem! A trama tem como mote a idéia de manipulação dos sonhos quando pessoas dividem o mesmo espaço onírico, dando-lhes a oportunidade de acessar o inconsciente de alguém.

Dom Cobb é um ladrão de sonhos, especializado em extrair segredos das mentes de suas vítimas. Porém é desafiado a inserir, plantar uma idéia na cabeça de uma pessoa, o que ele aceita não sem hesitar, pois sabe que uma idéia é o parasita mais resistente e é altamente contagiosa. Quando ela ganha força no cérebro é quase impossível erradicá-la. Cresce a partir de pequenas sementes, ou te define ou te destrói. Vemos os dois exemplos no filme: como uma idéia inserida na mente de Fischer, o alvo da equipe, acabou definindo sua vida; por outro lado, a idéia de que este mundo não é real, acabou destruindo Mal, o amor de Cobb.

“Você está tão seguro do teu mundo? Acha que isto é real”? Pergunta Mal para Cobb. O que é real? O que é sonho? Até onde podemos confiar em nossa percepção do mundo a nossa volta? Escher “brincou” com estes conceitos aproximando a realidade do sonho de tal maneira que é quase impossível distingui-los. Na verdade, é esta mesma a intenção! Nolan a seguiu à risca. No filme, a equipe têm alguns truques para fazer seu teste de realidade. Podemos ler “A origem” do título em português como: “Você se lembra do início do sonho?” Não e aí está uma forma de diferenciar sonho e realidade, além do totem que cada um da equipe utiliza.

Veja “Metamorfose II” do Escher, como do caos pode nascer a harmonia. Abelhas que viram pássaros e peixes, pássaros que se transformam numa cidade, a qual em seguida vira um tabuleiro de xadrez. Lembra uma sessão de psicanálise, onde aparentemente algo que não tem nada a ver se liga a outro significante que vai dar sentido ao dito anterior. Só na aparência que nada tem a ver, mas basta um olhar mais atento para descobrir o que os une. Eis a arquitetura de um sonho! Portanto não estranhe se achar o filme um pouco confuso, sem sentido. Os sonhos são assim, mas apenas aparentemente. E é como um sonho que este filme deve ser visto. Nolan, assim como Escher, consegue a incrível proeza de nos fazer sonhar.